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Uma conversa franca sobre o pecado

A dor do pecado é sempre maior do que seu prazer. A angústia que dele decorre é maior do que sua efêmera satisfação.

A força que se faz para resisti-lo é menor do que o peso da culpa, e sua consequente agonia de morte… Digo morte porque a perda da alegria da comunhão com o Pai é como a morte, afinal nele nos movemos, existimos e vivemos (At 17.28). Esta agonia de morte, da perda da comunhão é tão peculiar ao pecado que traz consigo a sensação do abandono de Deus do qual nem mesmo nosso salvador ficou isento. Conquanto não tivesse pecado, a palavra nos diz que Ele se fez pecado em nosso lugar, e por consequência na cruz exclamou: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste.”

A realidade do que é o pecado deve estar clara para o cristão. Temos de nos desiludirmos dele. Por exemplo: quanto tempo dura o seu prazer? A satisfação de ter gritado e xingado alguém que nos feriu… quando tempo dura? A euforia provocada pelas bebidas e as drogas… quando tempo dura? O prazer da sedução… quanto tempo dura? Pensemos a respeito. Quanto tempo dura essas coisas? Todas as nossas decisões, ações e atitudes tem efeitos imediatos, efeitos a médio e a longo prazo. Há efeitos que além de percorrer essa linha de consequências, ecoarão também na eternidade, e somente quando lá estivermos, descobriremos em se deram… Em relação ao pecado, o seu efeito imediato pode não ser a sensação de culpa, desgosto e tristeza, mas depois os seus males indubitavelmente se manifestarão. Aqui está uma lei tão certa quanto certa é a lei da gravidade. Não há como manipulá-la ou dela escapar. Há alguém que praticou algo contra a luz de sua consciência, e conseguiu se livrar das consequências?

A sensação que temos, quando diante da tentação, é de que conseguiremos estender ao máximo o seu prazer. A situação pecaminosa é vivenciada de tal forma que o prazer se torna nosso sentido de vida naquele momento. A sua compulsão em nós é tão esmagadora que resistir parece ser tarefa inconcebível. Mas, “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” – pergunta o profeta. Conhecer o próprio coração é um processo, mas é necessário. Paulo nos recomenda que devemos examinar a nós mesmos (1Co 11.28). Somente aqueles que examinam o próprio coração conhecem suas faltas pessoais e é capaz de ser tolerante com os erros, defeitos e limites do seu próximo. Essa não é uma tarefa para meninos. Mas para homens e mulheres com consciências amadurecidas no evangelho. Não é tarefa fácil; afinal, mesmo ao examinar o próprio coração, o fazemos a partir dos olhos do nosso próprio entendimento. Penso que foi com esta preocupação, ou seja, diante da possibilidade do autoengano que Davi exclamou diante do Senhor: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Expurga-me tu das que me são ocultas” (Sl 19.12).

Não quero fazer apologia do pecado, mas reconheço que as lições dele só se aprendem (com a devida gravidade) na prática. Somente aqueles que se sabem como grandes pecadores, conseguem enxergar a sua enorme dependência de Deus. Novamente Davi nos é extremamente útil. No Sl 130 exclamou: “Das profundezas a ti clamo, ó Senhor”.Já no Sl 88.6 foi mais incisivo: “Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas”.

Como é o nosso coração? Um jardim florido, uma terra de paz ou de guerra? Davi pode enxergar as profundezas e as trevas interiores que o habitavam, e é o nosso exemplo. Não devemos nos iludir: o caminho da perfeição é contínuo, vitórias alcançadas não exclui a necessidade da vigilância contínua, e a experiência não deve gerar automatismos de conduta em nós, como se toda circunstância fosse igual a outra.

Pensemos no apóstolo Paulo. Como o imaginamos? Esse grande servo do Senhor que escreveu a maior parte do novo testamento foi um gigante na fé. Será que via a si mesmo como um santo? Sempre me impressionei com as cartas de Paulo, e com alguns versículos em particular. Um dos que mais tem marcado minha caminhada está em 1Tm1.15: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Aqui está um servo, depois de vários anos de caminhada, escrevendo uma de suas últimas cartas, plenamente consciente de sua condição de pecador. Chega ser paradoxal pensar que à medida que os anos passam, e a caminhada acontece, a consciência do pecado aumenta, mas é exatamente isso que se dá quando nos aproximamos da luz de Deus. Quanto mais luz, mas explícito fica o que diante dela se expõe. Assim, a comunhão com Deus sempre há de produzir no homem revelação pessoal, auto consciência, e a certeza de que suas aparentes justiças não passam de “trapos de imundícia”. Somente diante dessa luz se vê as “imundícias da carne e do espírito, e se aperfeiçoa a santificação no temor de Deus”(2Co 7.1).

Indagamos muito a respeito de um fato comum na vida de algumas pessoas: por vezes, vemos que aqueles que se deram efusivamente à prática do pecado, e caminharam por caminhos demasiadamente tenebrosos, quando encontram com Jesus, e se deixam transformar por Ele, frequentemente são pessoas grandemente usadas pelo Espírito, o qual lhes confia a administração de vários dons. Quem nunca ouviu um testemunho de um ex-bruxo, um ex- presidiário, ex-drogado, ex-traficante e tantos outros. Sempre pensava sobre essas aparentes “coincidências”, quando Deus me levou a compreender que tal fato normalmente se dá em função dessas pessoas reconhecerem a enorme carência e dependência que têm da comunhão com Deus; e praticarem a comunhão com disciplina e severidade. A consciência da carência é tão grande quanto for a consciência de quão pecador se é. E então? Vamos pensar seriamente sobre o pecado?